terça-feira, 16 de novembro de 2010

Balkan trip

Antes de começar, quero manifestar a minha surpresa pela calmaria após o post anterior, atendendo que costumo ferir algumas susceptibilidades. Então e o post da Lasko trip não tem direito a comentários nem a mexericos? Porque não? Beber cerveja(e não só) durante um dia inteiro, no autocarro, no bar, a meio da praça, no jardim, em frente a uma igreja não é libertinagem suficiente para aguçar os mais linguarudos? Fazer isso já não é imoral? Ok. Óptimo. Excelente.
Agora sem a rispidez que tanto me fica bem. Que fique bem claro, nem tudo o que lêem é suposto levarem à letra, isto não é um diário de bordo, é um blog. Para mim este blog é suposto ter entretenimento, não quero ser enfadonho comigo nem mesmo para com vocês, mas para que seja entretido é preciso recorrer a outros recursos além do descrever os acontecimentos tal como realmente foram. Tomem atenção às sátiras, às ironias e às hipérboles. Sim, eu sou capaz de entusiasmar-me à medida que vou escrevendo.

Falando agora do que realmente vim aqui falar, quero confessar que eu sou um afortunado, reconheço. Estar a fazer Erasmus é realmente positivo porque pela primeira vez estou a viver "sozinho" e longe de casa. Estar a viver em Maribor é bom porque é distante e obriga-me a lidar com diferenças culturais, tais como a língua assim como uns ou outros comportamentos. Creio estar a ganhar experiência de vida e por consequente autonomia pessoal e isso deixa-me muito satisfeito. Mas o que faz realmente sentir-me afortunado foi a viagem que fiz aos Balcãs no último fim-de-semana. As diferenças que lá presenciei fizeram-me ver que afinal Maribor não é assim tão diferente de Portugal, ou pelo menos relativamente. Agora, depois ter estado na Bósnia e Herzegovina, viver em Maribor parece o mesmo que estar em casa, na Madeira, no conforto do meu sofá sem nenhuma preocupação, apenas sossegado por estar em casa. Parece que Maribor subitamente deixou de proporcionar aquela sensação de estar no estrangeiro, distante de casa. Depois daquilo que vi posso dizer - a Bósnia e Herzegovina sim, essa sim é de facto remota em todas as formas possíveis.
Pela primeira vez estive num território pós-guerra(1992-95) e foi o mais próximo que estive do médio-oriente até hoje e de facto é surpreendente, não é fácil reconhecer que estamos na Europa. A cidade de Sarajevo, a capital, é conhecida como a "Jerusalém da Europa", isto por causa da quantidade de religiões que coexistem na cidade e tão próximas umas das outras. Podem ver-se mesquitas e sinagogas a tão poucos metros de distância uma da outra. E é de facto impressionante saber que nessa mesma cidade católicos, ortodoxos, judeus e islâmicos vivem em harmonia e confortáveis com as suas diferenças culturais, despreocupados e sem nunca levarem as suas crenças ao extremo. Para terem uma ideia, passamos por uma sinagoga afectada pela guerra e posteriormente foi substituída por uma nova cujos custos foram suportados por um Sultão. Utópico, não é?
A guerra ainda está bem fresca na memória de todos os habitantes. Não tem mais de 15 anos que a Bósnia conseguiu libertar-se do cerco da Sérvia. Estão a recuperar, mas lentamente. Ainda é possível encontrar nas principais ruas da cidade edifícios que fazem lembrar um queijo suíço cheio de bolor. E isso reflecte-se nas pessoas. Elas falam sistematicamente da guerra e com tamanha naturalidade das mortes, dos danos, do quão duro foi, mas ao mesmo tempo congratulam-se pela forma como sobreviveram. Talvez seja esse orgulho partilhado pela nação que os torna tão unidos.
Apesar de tudo, Sarajevo é uma grande cidade. O metro, apesar das mazelas provocadas pela guerra e da já longa idade, funciona perfeitamente. O comércio de rua tem muita procura, os lojistas trabalham 7 dias por semana e alguns mantêm os seus negócios abertos cerca de 12h por dia. A moeda é o marco convertível, conhecido como Km e a taxa de conversão é perto de 1€=1,9Km. O custo de vida é bastante acessível para quem vem do Ocidente. Alguns bens são bem baratos, tais como o tabaco. É possível comprar Marlboro por 3Km(aproximadamente 1,5€), se comprarem um volume de 10 maços pagam 15Km(7,5€, 75 cêntimos por maço), mas apenas podem atravessar a fronteira com um volume por pessoa. A comida é igualmente acessível. É possível comer um prato tradicional da Bósnia por 5Km(2,5€) ou até mesmo um bom snack por 3Km(1,5€). Tal como em Maribor(com o sistema dos cupões), os refrigerantes são quase tão caros como a refeição só por si, para nem falar do facto da coca-cola ter apenas 20cl e a qualidade deixa muito a desejar, portanto a melhor opção por estes lados passa sempre por pedir um copo de água à refeição. Um Volkswagen Golf TDI novo pode ser adquirido por 30.oooKm(15.000€ aprox.). Um Nokia n8(touch) custa 49Km(25€ aprox.) e continuando por aí é fácil imaginarem como será todo os outros custos...
Incrível é também a quantidade de localidades interiores cujas paisagens à beira rio são de facto encantadoras, sítios onde apenas a mais fértil das imaginações conseguiria alcançar. Outros, para além da sua irrefutável beleza, conseguem também fazer-nos recuar no tempo até a época medieval com tamanhas fortalezas. Dentro desse grupo está Mostar, uma cidade com cerca de 120 mil habitantes, com um crescimento urbano nítido. Erguem-se novos edifícios, mas longe da zona mais antiga, onde está preservado um verdadeiro património. A velha ponte de Mostar, é a principal atracção, foi destruida em 1993 durante a guerra, mas foi restaurada em 2004 e actualmente faz parte do património mundial da UNESCO. Mas nem só de uma ponte vive o encanto de Mostar. As ruas estreitas, o chão que pisamos calçado por pedras toscas, os pontos de comércio intermináveis, onde todos vendem canquilharia das índias, tornam as já estreitas ruas ainda mais estreitas e juntando tudo faz com que o encanto da ponte estenda-se ao longo dessas ruas. E por falar em encanto, as 'bosnas' são igualmente encantadoras, palavra de escuteiro.
- Mas então, Hélder. Isso é só coisas boas? - Não, não. Pelo lado negativo destaca-se alguma pobreza e um monte de crianças ciganas pedintes em cada esquina. Mas por muito penoso que seja, é melhor não reparar, não vá um batalhão de ciganos perseguir-vos motivados pela excessiva fé na vossa compaixão.

P.s., se alguém souber como se chamam os cidadãos da Bósnia e Herzegovina, masculino e feminino, que faça o obséquio de me informar

A velha ponte de Mostar



domingo, 7 de novembro de 2010

Lasko trip


Pela primeira vez nós, os madeirenses, aderimos a uma viagem organizada pela ESN. Para aqueles que nos conhecem, foi com grande surpresa com que receberam a notícia. Tudo isto motivou a uma onda de euforia entre a comunidade Erasmus de Maribor. Notou-se bem quando entramos no autocarro, olharam entre si com um sorriso de satisfação e segredaram - são os madeirenses!!!
Nós até nem planeamos vir para Erasmus a pensar no protagonismo, mas como os nossos dance skills (especialmente os do Luís) sobressaem onde quer que vamos, não nos deram alternativa!
Devem ter achado que estávamos lá para enriquecer a nossa cultura, passar algum quality time com os Erasmus e maximizar a nossa Erasmus experience, mas não, desenganem-se. Aqui entre nós, a razão que nos prendeu à viagem foi meramente o destino: Lasko. E porquê? Lasko é uma pequena região cujo nome é sobretudo conhecida pela sua cerveja. Mas não é apenas uma cerveja. Para terem uma ideia, a Lasko está para a Eslovénia como a nossa Coral está para a Madeira, embora muito distintas. Quando nos apaixonamos procuramos sempre mostrar que nos preocupamos e interessamos assim como também gostamos sempre de provar e saber mais...e foi isso!
O programa passou por uma visita ao museu da cidade, à fábrica da cerveja e uma prova de cerveja no final. A viagem acabou em Celje para um passeio livre de duas horas. O que fizemos nessas duas horas? Com a embalagem que apanhamos em Lasko o mais sensato foi continuar a beber Lasko numa das praças de Celje.

Para finalizar, deixo-vos com uma foto da fábrica de cerveja, um autêntico regalo, nunca antes uma linha de produção me pareceu tão fascinante.




sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Capítulo I - Tanto calor e ninguém apaga o lume

Pela demora provavelmente pensaram que tinha desistido...mas não, eu estou de volta e mais cedo do aquilo que esperavam!
Contudo, preciso de um estímulo...de sentir que querem saber mais! Digam vocês - Hélder, e então...novidades?
Assumindo que todos fizeram a mesma pergunta vou continuar.

Bem, passada mais de uma semana desde o nosso último encontro, e tratando-se de Erasmus, é de facto legítimo esperar por novidades. Tomara eu tomasse a iniciativa de manter um diário a sério, não vá a minha memória falhar um dia.

Fazendo um flashback mental encontro um evento muito peculiar: Ice Cubing Party. Se até aí as festas de Erasmus já se tinham revelado uma autêntica selva - sim, com leões, tigresas, gazelas e outros mais - esta então foi, definitivamente, o cume! Passo então a vos explicar. Este evento foi realizado no fuego, el latin club de Maribor, e como devem imaginar, só a julgar pelo nome, até numa noite normal o ambiente que lá se vive faz subir qualquer termómetro até à zona vermelha. Adicionando gelo à fervura o lógico seria esperar que a temperatura amainasse, a termodinâmica assim o indica, mas não, desenganem-se, meus amigos. O fuego tem o poder de contornar todas as leis da física! Leis da atracção inclusive. No fuego todos, mas todos, os corpos se atraem. E andei eu a estudar durante uma carrada de anos para agora sentir que nada sei, isto é mesmo fantástico!

E agora dizem vocês - Hélder, já chega de divagar, conta-nos mas é que cena é essa a do gelo!

Ok, ok. Já parei!

A ideia de adicionar gelo à festa para mim não passou de uma incógnita. Quando li o "ice cubing party" os meus olhos involuntariamente saltaram o "ice cubing" e passaram directamente para o "party" e foi realmente apenas o "party" que me levou ao fuego. Já no fuego, sem saber o que se aproximava, regozijava-me simplesmente por termos chegado antes da meia noite, isto porque é happy hours e as bebidas a metade do preço têm por hábito ser a melhor rampa de lançamento para uma grande noite. Até aí tudo muito normal. Eis que de repente começaram a trazer baldes a transbordar cubos de gelo. Deixaram lá em cima da mesa bem acessíveis. Mas face à indiferença, fizeram finalmente questão de explicar a todos os presentes qual a finalidade do gelo. E foi muito simples. Colocar um cubo de gelo na boca e entregar o gelo na boca de outra pessoa. Devasso? Não, não sejam pudicos! Foi tudo em prol da integração e do bom relacionamento entre Erasmus. Na Madeira, onde a maioria teima a reparar se alguém está a olhar na sua direcção antes de contrair um músculo que seja, talvez esta festa tivesse sido um fracasso, mas no fuego com 200 Erasmus e happy hours não poderia ter sido diferente: um grande sucesso! Até digo mais, chegou a um ponto em que haviam pessoas a regatear cubos de gelo dada a sua escassez. Esta prática acabou por revelar-se um excelente exercício e uma forma muito eficaz para os alunos Erasmus se ambientarem à economia instável, insustentável e hostil do momento - e ainda dizem que não se aprende nada em Erasmus, hmpf!


Cumprimentos, em especial para a Madeira com um sabor a saudade.



terça-feira, 5 de outubro de 2010

Prólogo

Um período de Erasmus é sempre tido como algo fascinante, quer do ponto de vista social quer académico ou até mesmo profissional(posteriormente). É como que a última fronteira de toda a experiência académica. É impressionante como todas estas premissas conseguem deter e fazer esquecer a arrebatadora ansiedade de sair de um país para outro com uma cultura completamente diferente durante tantos meses, assim como também a facilidade com que são capazes de tornar uma longa e desgastante viagem numa experiência memorável.

A Eslovénia é um país pequeno, tem apenas dois milhões de habitantes. Existem apenas algumas cidades ditas urbanas, sendo a maioria delas pequenas localidades rurais. O verde é a cor predominante em todo o país. Paisagens naturais de onde sobressai a sensação da maior das tranquilidades. Maribor é a segunda ou terceira maior cidade do país, mas não é assim tão grande. É uma cidade de estudantes, equiparável a Coimbra, muito pacata, verde e fácil de circular, quer pelo facto de ser pequena como também é fácil orientar-se nas ruas. Quando está bom tempo o melhor transporte é a bicicleta, todas as ruas têm uma via para velocípedes. Para quem fica alojado nos dormitórios tem todo o tipo necessidade por perto, indo pelos próprios pés até ao supermercado levamos no máximo 5 minutos. O custo de vida é muito semelhante ao português, algumas ligeiras diferenças, mas que são contrabalançadas. A cerveja é mais barata(woohoo!), mas por outro lado o café é mais caro(oohh!).
Contudo, o que realmente marca são as pequenas diferenças...é fácil ter a percepção de que povo esloveno não está habituado ao calor de outras culturas e talvez seja por aí que gostam tanto dos portugueses. Um simples cumprimento na face, em vez do uniforme aperto de mãos local, é capaz de acelerar o fluxo sanguíneo de uma rapariga vulgar. É evidente a reacção, um misto de estranheza e deleite estampado no rosto.
Nós por cá temos sido super bem recebidos, apesar de no geral serem frios e um tanto ou quanto brutos. Quando falamos de Portugal querem sempre saber mais, querem sempre que transmitamos um pouco da nossa cultura. O mais comum é solicitarem-nos para aprenderem a dizer obscenidades em bom português - não, não é bonito, mas têm de começar por algum lado, não é?

Quanto aos Erasmus, somos 240 (mais coisa menos coisa), cinquenta espanhóis, trinta 'tugas', um bando de franceses, outro de turcos, polacos, eslovacos e outras mais nacionalidades. É um choque de culturas, mas o espírito académico e a forma de viver a juventude é igual em toda a parte, daí que todos dão-se bem. Como em qualquer festa académica, as festas de Erasmus também são preenchidas com os grandes temas do mundo da música...até ao momento já memorizei, involuntariamente, as letras de êxitos como "I got a feeling"(ainda não sabia toda), "waka waka", "love the way you lie" entre outros!!! O ambiente nas festas é igualmente caloroso, apesar fazer imenso frio lá fora, e é muito casual ver as esfregadelas, pessoas a devorarem-se mutuamente e até lições do kama sutra com direito a encenação. Nada de novo!
Mas a experiência não se resume apenas à devassidão, claro que há também aspectos positivos. A Erasmus Student Network de Maribor encarregou-se também de proporcionar actividades lúdicas, culturais e construtivas. O International Dinner onde todos deram a provar um pouco da sua gastronomia, um passeio pelo rio Drava, a prova de vinhos locais, uma prova de orientação pela cidade, assim como viagens ao longo da Eslovénia, entre outras. Nós faltamos à maior parte das actividades, pois por cá nós portugueses temos a fama e o proveito de sermos os mais atrasados, ainda assim reconhecemos o mérito da ESN e queremos deixar claro que têm todo o nosso apoio para continuar nesta mesma linha de actividades. E não, é escusado adiarem uma ou duas horas por nós. Chegar tarde é uma marca portuguesa, é uma afirmação, é estilo!

Agora para aqueles que neste momento estão a pensar - rica vida, foste para a Eslovénia passar férias, xico esperto! - bem, isso não é de todo verdade. Eu já fui à minha Faculdade, em Celje a 65Km de Maribor, e encontrei-me com o coordenador de Erasmus, mas, depois ter acordado às 7h da matina e ter-me deslocado 1h de Comboio, ele teve a gentileza de reter-me apenas por 5 minutos e mandar-me de volta para Maribor, que simpático, não é?. Continuamos a tratar dos detalhes para o meu plano de estudos cá, mas pelo menos agora estamos a fazê-lo por e-mail. Os meus professores ainda não se encarregaram de me dar trabalho, portanto, continuo, após as duas semanas de recepção e contra a minha vontade, num ócio perdidamente boémio...

Saudações de Maribor.